30 de julho de 2010

desejo inexistente

"Pois se a força de todo o pensamento que tenho em você pudesse influenciar em alguma coisa estaríamos rindo e nos divertindo com todos os outros... os outros seriam nossas outras partes... ninguém é tão único (existencialmente) que não possa ser dividido..."

Esse foi eu nas férias, apaixonado pelos meus pensamentos.

29 de julho de 2010

Machuca

"Você me machuca, sem nem ao menos me tocar, sem nem ao menos falar comigo, sem nem me notar, sem nem me ligar, sem nem mandar mensagem, nem cartas, nem fotos, nem e-mails, olhares, gestos, comprimentos, beijos, carícias, sem nem ao menos lembrar que eu existo...

Você me machuca por existir, ou por fazer que eu tenha tido conhecimento da sua existência, por saber que você existe, por saber em parte "o que você é", "o que você foi", por sentir vontade de participar do seu "o que você vai ser".

Tudo lembra você: os momentos, as roupas, os sapatos, os cheiros, o meu, o seu, pessoas, carros, lugares, comidas, livros, filmes, objetos, minhas roupas, minha cidade, outras cidades, lugares, poucos lugares talvez, datas, atividades físicas, faculdades, pessoas, outras pessoas, números, fotos, comentários, músicas, músicas, e mais músicas, uma estação de rádio, dias nublados, caminhos, a serra, a tão pacata serra, os riscos no céu, as luzes da cidade, as avenidas, as bebidas, parei de beber.
Quando bebia eu conseguia sentir o tamanho da sua existência comparada a minha, a importância (tola) que eu dou a você, e o conhecimento que você não sabe nada sobre mim, e que não sente curiosidade em saber.
Te dou razão, não existe nada de curioso em alguém imaturo como eu, em alguém novo.
O medo da repetição, a repetição também me assusta, a repetição me cansa, me estressa, me deprime, reprime, enfraquece, empobrece, a repetição pesa, um peso sem valor exato, nada exato.

Esse sentimento bobo... eu preciso saber se é bobo mesmo, se realmente estou certo em relação ao que penso sobre mim mesmo...

Podemos tentar, eu posso, prometeria a mim mesmo viver sem pensar no futuro, pois quando se tem alguém que você possa transmitir todos os sentimentos todas as outras coisas se tornam simples de fazer, como estudar, andar de carro, escrever, sentir ...

Não machuca, mas eu prefiro ficar machucado agora do que me decepcionar depois... Mas estaria disposto a me machucar depois e me decepcionar agora...

A unica coisa que eu queria era que os anos se passassem mais rápidos do que um piscar de olhos, e que não houvesse preocupação se esse piscar de olhos demorasse muito."

Correspondências não Respondidas... Cartas para os mortos

2 de julho de 2010

em tratamento

"
- ' ... Favor tratar do assunto com o Sr. Pedro.', que suponho que seja você. - prosseguiu.
- Dê-me este papel - tomei o papel quase que de surpresa de suas mãos, sua cara continuava a mesma, como se eu fosse o culpado. Agora eu lia o papel, realmente era a letra dele - Como que alguém faz uma dívida como essa e ainda me faz pagar, digamos, esse papel.
- Está pago - ela me mostrou o dinheiro - você tem direito ao que quizer - sussurrou.
- Então quero que você se vá daqui imediatamente.
- Ah, tudo bem Sr. Pedro, eu já sei, você não curte muito isso, olha, mas você tem que colaborar, se eu voltar agora vão achar que nem sequer vim aqui, vão me surrar e provavelmente me tirar todo o dinheiro.
- E o que diabos eu tenho haver com isso?
- Olha, estou tentando ser amigável com o Sr. Por favor deixe-me ao menos ficar aqui por algumas horas.
- Então estará tudo bem se eu e você mentirmos? Se eu e você fingirmos?
- Por mim...
- Bem, é que, digamos, não confio muito em pessoas digamos...
- Você não confia em qualquer pessoa tudo bem...
- Err... Bem, então, eu gostaria se você não poderia me dizer algumas coisas, que, err - eu não encontrava palavras. Eu tive um pouco de dó daquela mulher, não confiava nela, sabia que ela iria contar que não fizemos nada e provavelmente eu teria um prejuízo, não sabia por completo, apenas deduzia - bem, podemos conversar, você me contar sua vida, eu posso escrever sobre você... ajude-me também ora bolas.
- Deixe-me entrar ao menos.

Minha casa estava um pouco bagunçada, ela elogiou dizendo que eu era organizado apesar da bagunça aparente. Sentou-se em meu sofá. Sua camisa era bem iluminada com a luz da sala e pude perceber todos os detalhes. Suas calças eram velhas e sua sandália não era das mais confortáveis. Não tinha nada de muito atraente, me parecia vazia, somente sua boca me fascinava. Ofereci-lhe um cigarro, e já estávamos sentados fumando juntos, como dois conhecidos.
- O que você faz da vida?
- Trabalho ... para me sustentar apenas, para me divertir quando for possível.
- Não tem filhos?
- Não.
- Eu trabalho pra satisfazer idiotas, assim como...
- OPA! - interrompi - assim como?
- Assim como seus amigos, e quase metade da população masculina infiel e mal-amada. Trabalho pra pessoas incapazes de conseguir algum prazer sem dinheiro - deu um trago forte no cigarro - Trabalho para me sustentar também ... me divirto pouco, tenho dívidas, algumas obrigações também - suspirou - Quando se entra nesse mundo você não vê saída, sempre tem alguém te perseguindo ou querendo tirar proveito de você... e tem gente que quer te tirar desse mundo - deu uma risada sarcástica - Acontece que... não são as pessoas certas e... sabe como é... são grudentos e são feios, não são atraentes, querem me tirar dessa vida mas nem ao menos se importam com o que eu sinto.
- Assim como quando alguém se apaixona por você... digamos, só pensam em sí, em sua propria satisfação, só para que você seja única.
- É...
- Bem, podemos discutir isso durante a noite toda, mas a senhorita aceitaria alguma bebida? - fiz isso soar quase como uma piada, o que fez ela rir. Sua risada era feia, mas sua boca se comportava de forma bela.
- Sim, 'Monsieur' Pedro.
- Fala francês? - assustei-me.
- Oui.
- Eu também

Então iniciamos uma conversa em francês enquanto eu procurava um vinho novo e barato para dividir com aquela dama. Por fim percebi que essa mulher não era de toda ruim, sim, ela tinha uma parte boa, uma parte interessante, mas isso não conseguia sobre-por seus defeitos e seus ser, não conseguia de forma alguma.
Agora estava eu sentado em meu sofá fumando e tomando vinho com uma desconhecida e conversando em francês, como se fosse uma conhecida, como se tivéssemos muitos assunto a se conversar. Contei-lhe piadas em francês somente para vê-la sorrindo. Falei sobre meu trabalho, contei do tipo de música que eu gostava de escutar contei sobre que tipo de literatura eu gostava de ler. Ela dissera que não tinha tempo de fazer o que gostava, disse que gostava de ler e que escutava rádio quase que por obrigação, e que quase nunca tinha assunto, mas gostava muito de falar. A medida que bebia seu francês parecia mais aguçado e falava mais e mais. Por fim tivemos uma crise de risos e as taças já estavam vazias.
- Você é um cara interessante... acho que conheci poucos caras interessantes...
- Pardon!

Eu conseguira fazer com que uma puta me achasse interessante, afinal se eu não conseguisse eu sentiria que nem para uma mulher sem valor eu teria valor... "valor moral"

- Tão interessante que nem da bola pra mim, meu valor é em dinheiro e o seu é em conhecimento.
- Não precisamos discutir isso, não sou lá essas coisas, meu banco de informação é inútil para algumas pessoas.
Ela encostou sua cabeça no sofá, deu um leve suspiro e fechou os olhos por uns 10 segundos, deu outro suspiro e falou tão rapidamente que assustou-me:
- Agora eu nem me importaria se você me fudesse... praticamente já me conquistou... você realmente não precisa de mim, sou para idiotas, e você não é um.
- Você não pode afirmar que eu não sou um idiota, você nem me conhece direito, posso ser um idiota em outras coisas... como... matemática.
- Além de tudo não dá valor pra sí mesmo, é você pode ser um pouco idiota mesmo.
- Se eu te fudesse agora eu seria mais um idiota?
- Sim.

Realmente nada naquela mulher me atraia, falei por falar, não sentia vontade alguma por ela, me parecia legal conversar em francês com ela, mas era a unica qualidade que ela tinha.

- Bem, o tempo voou, dava tempo de termos transado 2 vezes... acho que todo esse tempo pode convencer seus amigos... se é que são amigos.
- Pensam que sou que nem eles, talvez?
- Você realmente não é, não devia estar nessa cidade suja.
Olhou-me com um olhar piedoso, achou que eu teria alguma ação e que eu estava interessado em alguma coisa que ela pudesse me oferecer, porém apenas enchi sua taça mais uma vez.
- Se quiser ir embora, bem, já pode.
- Bem, acho mesmo melhor, esse vinho é bom demais - deu uma risada e tomou a taça inteira com rápidos goles - foi bom te conhecer... seu francês é bom, deveria usa-lo mais.
- Oui madame
- Então vou embora

Levantou-se e acompanhei-a até a porta
- Bem, poderia usar seu banheiro, é que tenho que fingir que suei ou coisa do tipo...
- Oh sim claro
Ela fez isso mais rápido do que imaginei
- Foi um prazer te conhecer... se você precisar de...
- Não por favor, apenas vá.
- Tudo bem, obrigada pelo vinho.
- De nada.

Fechei a porta rapidamente, não queria ver aquela mulher novamente nunca, apesar dela ter gostado de mim, agora sabia onde era minha casa, poderia reaparecer, eu temia isso, temia que pessoas que me achassem legal fossem atraz de mim, pois na maioria das vezes não eram pessoas legais que me achavam legal, eram pessoas tolas."